" Hoje, passaríamos pela paisagem de nossa juventude apenas como viajantes. Os fatos nos consumiram; como os comerciantes, sabemos distinguir as diferenças e, como os carniceiros, sabemos reconhecer as necessidades. Já não somos despreocupados; vivemos numa terrível indiferença. Se estivéssemos lá, será que viveríamos? Desamparados como crianças e experientes como velhos, somos primitivos, tristes e superficiais... Acho que estamos perdidos."
" Os dias se sucedem, e cada hora é ao mesmo tempo incompreensível e natural. Os ataques seguem-se aos contra-ataques, e, lentamente, nos espaços livres das trincheiras, os mortos se empilham. Geralmente, conseguimos trazer de volta alguns feridos; no entanto, alguns ficam estendidos por muito tempo, e nós os ouvimos morrer.
Procuramos um deles em vão durante dois dias."
" Os dias são quentes, e os mortos jazem desenterrados. Não podemos ir buscar todos, não saberíamos para onde ir com eles.
Não precisamos, porém, nos preocupar: são enterrados pelas granadas. Alguns tem as barrigas inchadas como balões, assobiam, arrotam e mexem-se. São os gases que se agitam neles.
O céu está azul e sem nuvens. As noites são sufocantes, e calor sobe da terra. Quando o vento sopra na nossa direção, traz o vapor de sangue, que é pesado e de um doce repugnante; esta exalação mortal das trincheiras parece uma mistura de clorofórmio e de podridão, que nos causa mal-estar e vômitos.
" Gostamos dos aviões de combate, mas detestamos como a peste os de observação, porque atraem para nós o fogo da artilharia. Poucos minutos depois de surgirem, explode um dilúvio de granadas. Com isto, perdemos onze homens num só dia, inclusive cinco enfermeiros. Dois ficaram tão esmagados, que Tjaden afirmou poder raspá-los da parede da trincheira com uma colher e enterrá-los nas marmitas. Um outro teve o abdome arrancado juntamente com as pernas. Está morto, com o peito encostado na trincheira, seu rosto está verde como um limão, e no meio da barba cerrada ainda arde um cigarro, que continua queimando até apagar-se nos seus lábios.
Por ora, colocamos os mortos numa grande cratera. Até o momento, já empilhamos três camadas."
(...)
" Os dias se sucedem, e cada hora é ao mesmo tempo incompreensível e natural. Os ataques seguem-se aos contra-ataques, e, lentamente, nos espaços livres das trincheiras, os mortos se empilham. Geralmente, conseguimos trazer de volta alguns feridos; no entanto, alguns ficam estendidos por muito tempo, e nós os ouvimos morrer.
Procuramos um deles em vão durante dois dias."
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" Os dias são quentes, e os mortos jazem desenterrados. Não podemos ir buscar todos, não saberíamos para onde ir com eles.
Não precisamos, porém, nos preocupar: são enterrados pelas granadas. Alguns tem as barrigas inchadas como balões, assobiam, arrotam e mexem-se. São os gases que se agitam neles.
O céu está azul e sem nuvens. As noites são sufocantes, e calor sobe da terra. Quando o vento sopra na nossa direção, traz o vapor de sangue, que é pesado e de um doce repugnante; esta exalação mortal das trincheiras parece uma mistura de clorofórmio e de podridão, que nos causa mal-estar e vômitos.
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" Gostamos dos aviões de combate, mas detestamos como a peste os de observação, porque atraem para nós o fogo da artilharia. Poucos minutos depois de surgirem, explode um dilúvio de granadas. Com isto, perdemos onze homens num só dia, inclusive cinco enfermeiros. Dois ficaram tão esmagados, que Tjaden afirmou poder raspá-los da parede da trincheira com uma colher e enterrá-los nas marmitas. Um outro teve o abdome arrancado juntamente com as pernas. Está morto, com o peito encostado na trincheira, seu rosto está verde como um limão, e no meio da barba cerrada ainda arde um cigarro, que continua queimando até apagar-se nos seus lábios.
Por ora, colocamos os mortos numa grande cratera. Até o momento, já empilhamos três camadas."
Erich Maria Remarque - Nada de novo no front
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