sábado, 26 de dezembro de 2009

O Brasil que é vanguarda

O Brasil tem se destacado muito fortemente no cenário da crise climática mundial, se mostrando um dos países mais dispostos a fazer um acordo de verdade. Mesmo fora do anexo I, composto pelos países desenvolvidos, os únicos obrigados a colocar na mesa de negociações metas de redução de emissões, saiu dessa posição "confortável" que muitos gostariam de estar e propôs metas, e foi além, ao oferecer ajuda a outras nações em desenvolvimento. O cenário vem sendo composto da seguinte forma: China e EUA como os principais problemas ao acordo, e diga-se de passagem ao meio ambiente; a união européia, como os que querem fazer algo mas ficam em cima do muro; o grupo dos países pobres de modo mais genérico, como os mais prejudicados, afinal são os que sofrem com a limpeza da casa sem terem tomado parte na festa; e o Brasil, como exemplo de postura a ser tomada, seguido de forma um pouco mais modesta por Coréia do Sul e Indonésia.
É esquisito dizer, mas tenho orgulho.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor.

Goethe

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A Universidade e a ordem atual das coisas

Avulta, nesse ponto, o papel da Universidade nessa busca do conhecimento. Mas, essa tarefa vem sendo exatamente ameaçada pelo prestígio crescente do cientismo e pela importância que este vem ganhando entre os que atualmente dirigem o ensino superior.
Num mundo em que o papel das tecno-ciências se torna avassalador, um duplo movimento tende a se instalar. De um lado, as disciplinas incumbidas de encontrar soluções técnicas, as reclamadas soluções práticas, recebem prestígios de empresários, políticos e administradores e desse modo obtém recursos abundantes para exercer seu trabalho. Basta uma rápida visita às diferentes Faculdades e Institutos, para constatar a disparidade dos meios (instalações, material, recursos humanos) segundo a natureza mais ou menos mercantil e pragmática do labor desenvolvido. De outro lado, o prestígio gerado pelo processo de racionalização perversa da Universidade é o melhor passaporte para os postos de comando.
Desse modo, um grave obstáculo a que se instale um processo de reflexão conseqüente é o contraste crescente, na Universidade, entre os seus grandes momentos e esse cotidiano tornado miserável pela ameaça já em marcha de uma gestão técnica e racionalizadora, que leva ao assassinato da criatividade e da originalidade.
Em nome do cientismo, comportamentos pragmáticos e raciocínios técnicos, que atropelam os esforços de entendimento abrangentes da realidade, são impostos e premiados. Numa universidade de "resultados", é assim escarmentada a vontade de ser um intelectual genuíno, empurrando-se mesmo os melhores espíritos para a pesquisa espasmódica, estatisticamente rentável. Essa tendência induzida tem efeitos caricatos, como a produção burocrática dessa ridícula espécie dos "pesquiseiros", fortes pelas verbas que manipulam, prestigiosos pelas relações que entretêm com o uso das verbas, e que ocupam assim a frente da cena, enquanto o saber verdadeiro praticamente não encontra canais de expressão.
Como uma racionalidade burocrática perversa ameaça invadir até mesmo aqueles recantos que não sabem viver sem espontaneidade, corremos o risco de assistir ao triunfo de uma ação sem pensamento sobre um pensamento desarmado.
Nessas condições, devemos reconhecer, toda reação é difícil e a muitos pode parecer como um verdadeiro suicídio, já que a carreira universitária não mais precisará ser uma carreira acadêmica. O grande risco é que a recusa à coragem e à falta de crença se convertam em rotina. Como nos libertar, então, da internalização da violência do que fala Horkheimer (1974), ou da "sujeição das almas", apontada por Lenoble (1990) ao se referir à maneira atual de representar a Natureza? Lembremos Heisenberg (1969) ao dizer que "...na ciência, o objeto de investigação não é a Natureza em si mesma, mas a Natureza submetida à interrogação dos homens". Não se trata aqui, de uma interrogação unilateral, técnica, menor, mais de uma interrogação abrangente, sequiosa de entendimento, uma tarefa intelectual.
Outrora, os intelectuais eram homens que, na Universidade ou fora dela, acreditavam nas idéias que formulavam e formulavam idéias como uma resposta às suas convicções. Os intelectuais, dizia Sartre, casam-se com o seu tempo e não devem traí-lo. Foi desse modo que o filósofo francês criticava a indiferença de Balzac face às jornadas de 48 e a incompreensão de Flaubert diante da Comuna. (L. Bassets, 1992, p.15).
Que fazer, quando, na própria Casa fundada para o culto da Verdade, a organização do cotidiano convida a deixar de lado o que é importante e fundamental?
Num discurso endereçado à agremiação norte-americana de economistas, um economista filósofo, Kenneth Bouding (1969), ante os descaminhos já clamorosos de sua profissão, reclamava a necessidade de heroísmo, para pôr fim ao conformismo, fugir aos raciocínios técnicos, recusar a pesquisa espasmódica, abandonar a vida fácil e, afinal, enfrentar o entendimento do Mundo.
O empenho com que nos convocam para tratar, seja como for, as questões do meio ambiente, sem que um espaço maior seja reservado a uma reflexão mais profunda sobre as relações, por intermédio da técnica, seus vetores e atores, entre a comunidade humana assim mediatizada e a natureza, assim dominada, é típico de uma época e tanto ilustra os riscos que corremos, como a necessidade de, em todas as áreas do saber, agir com heroísmo, se desejamos poder continuar a perseguir a verdade.

Milton Santos, in 1992: A redescoberta da natureza. Aula inaugural da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, em 10 de março de 1992.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ecolítica polinomia

Precisamos voltar a ter coragem e segurança para fazer opções político-ideológicas ao invés de apenas fazer opções econômicas. Precisamos voltar a entender porque isso é importante. A saúde, na verdade a exemplo de quase todas as coisas, navega nos rumos apontados pela redução dos custos / aumento dos lucros. Nos discursos políticos não se fala mais em cuidar da saúde, mas em reduzir os custos gerados pela doença. Fazemos política para o bolso de alguns ou para as pessoas? Falar sobre a saúde das pessoas diretamente deixou de ter importância? Não convence se não se falar em montantes de dinheiro economizado, multiplicado? Sim, não convence alguns, mas esses alguns não são os que sofrem com a saúde pública. É fundamental deixar de cair na falácia de que a relação econômica que existe como fundamento para a criação de políticas de saúde pública, que é um aspecto importante e necessário da decisão, seja a própria decisão.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A Terra aquece e as pessoas esfriam.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Novidade

Leveza.
Tentar sempre trocar a rigidez auto-flagelante por alegria. Mudar o olhar, a perspectiva, é uma difícil simplicidade. Quando a mente comanda sozinha o coração padece. Sem o coração não há como desenvolver a sabedoria de intuitivamente saber o melhor ingrediente pra cada momento.
O tempo é curto, mas e daí se não há sentido? Este, é a gente que dá. E dão os outros quando a gente não se importa. Nos dias de hoje, geralmente é um sentido de apertar o coração e tontear a cabeça. Ainda dizem que esse é todo e o melhor sentido a dar nesse mundo a esse mundo. Pois chega. Sentido agora dou eu, um condizente com esse tempo escasso, com esse coração bobo e com essas verdades que descubro, pequenas e minhas.
Simplicidade, coragem, ritmo, diversidade, atenção, curiosidade, paciência... e um espaço para o que o amanhã trouxer, mas isso é coisa pra se cuidar só amanhã.

domingo, 13 de setembro de 2009

Aprendi no Rio Grande do Sul

que não dá pra ter revolução sem música e comida.
E bom humor também cai bem, mas isso eu já sabia.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Beirut em Salvador

Só pra registrar: o show do Beirut aqui em Salvador (na verdade "lá", estou em Santa Catarina) foi um fiasco. Pra começar todas as atrações do PercPan foram experimentais demais, o som alto demais, longas demais, introspectivas demais. O maior pecado não foi a qualidade dos artistas mas o exagero na dose em cima de um mesmo tema, gostei bastante por exemplo da Oki Dub Ainu Band que resgata instrumentos tradicionais japoneses e os mistura com o Dub, mas em meio a todas as outras atrações tudo ficou cansativo. Programado para começar às 19:30 o show começou às 20:00 e às 22:10 ainda não tinha Beirut.
Expectativa alta, esperança de algo mais leve e harmônico, alguém que toque um pouco para o público e não apenas curta a sua viagem pessoal no palco frente a todo o público presente... bom, enfim entra o Beirut no palco, e excelente: eles vão começar com Nantes, minha preferida. Meu cérebro ainda abalado pela alegria de escutar uma música que se gosta ao vivo, direto da fonte engoliu o Nantes meia boca que foi tocada, mas daí pra frente... er... a dura realidade sobrepujou a inocência feliz e me dei conta que o que tinha a frente era apenas um grupo de jovens bêbados que tentava a duras penas fazer seu trabalho.
O Zach era o pior. Chegou simplesmente a virar para a platéia e dizer que não tinha condições de cantar. Que pena que ele era o vocalista e eu tinha ido lá pra ouvir a banda! Lá pelas tantas (o tantas se refere as horas, porque músicas foram poucas) encarnando o vodkalista, após diversas paradas, batidas no peito e anúncios de "eu não consego cantarrr", ele teve a brilhante ideia de convidar o público para subir pra cantar com ele.
Sim, óbvio. O tênue equilíbrio se partiu, jovens ensandecidos subiram no palco e não me perguntem o que exatamente aconteceu lá em cima. Do resultado da conta o que soubemos foi que roubaram um microfone, sumiu um instrumento da banda, e suspeito que um dos acordeons foi quebrado.
Confiram comigo no replay em três lances: subida, ataque e descida.




Os músicos pararam, a produção exigiu o microfone e o instrumento de volta, a plateia ensaiou gritos de "devolve!" mas nada aconteceu. Arranjaram outro microfone, eles tocaram mais alguma coisa e foram embora. Alguns timidamente pediam bis da tragicomédia do Beirut enquanto eu saia do teatro de saco cheio com o bando de meninos bêbados. Se o Zach não podia cantar pelo menos tivesse feito malabarismo pra gente, dançasse um samba, compartilhasse a bebida...
Fumando um cigarro (dado de mal gosto, o que suspeito ter sido a causa da dor de garganta que me assolou nos dois dias seguintes) enquanto curtia minha dor de cabeça (sim, o show conseguiu) ainda soube que o Zach voltou e tentou tocar mais alguma coisa sozinho mas eu não tinha mais paciência nem vontade. Deixa pra lá, preferi ouvir Beirut em casa e continuar gostando da banda.

Fotos conseguidas pela Ju que estava comigo.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Diz o Gandhi

"Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo."

E só assim há grande mudança.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Neuromancer

"Oi. Tá tudo bem comigo, mas as coisas estão ficando sem graça. Já paguei a conta. Acho que é a maneira como eu sou formatada. Se cuida, tá? Beijocas, Molly"

Nem soube a cor dos olhos dela. Ela nunca mostrou.

Case nunca mais viu Molly.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Entre o céu e a terra

Existe mais do que julga nossa vã ciência.

Desacreditei semana passada que poderia desenhar um dia. Ontem sonhei que desenhava, com detalhes, com muita qualidade. De algum modo minha consciência estava lá e o melhor, foi mais do que um momento. Eu via, me espantava com meu saber mas continuava com firmeza. Continuava a desenhar e minha consciência continuava a assistir. Não! Era melhor, ela participava, EU desenhava! Perspectivas, sombras...
Que tipo de acesso fiz ao meu cérebro... ao meu cérebro? Nada sei...
aliás, sei que posso desenhar.

sábado, 22 de agosto de 2009

Reflexão sobre o Trabalho Qualificado

A ética é o destino.
A excelência técnica é a habilidade de dirigir.
O engajamento é o motor, ou seria o combustível?

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Quando a coerência é coercência

Temos mania de cobrar coerência de nós e dos outros com o que já não somos, como se cada palavra dita fosse um axioma. Fazemos isso e depois questionamos quando fazem, mas o organismo exige muitas coisas quando entra em conflito. Conflita a paixão com o ciúme, a liberdade com a posse, a coerência com a mudança, o ponto com o etc.

Onde está o equilíbrio?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Para entender a inteligência

Já que o assunto inteligência rondou as postagens recentes, para quem ainda não entendeu aí vai a brilhante síntese de Rubem Alves:

"Comparo a inteligência ao pênis. Ela é flácida, mas, se provocada, começa a sofrer transformações hidráulicas incríveis. É assim, precisamente, que funciona a inteligência. Lá está ela, flácida e ridícula. Pequena demais. Talvez inexistente. 'Curto de inteligência, meio burrinho...', se diz. Não se nota que ela está assim porque ainda não houve um objeto de amor que a excitasse para ter uma ereção."

Retirada deste livro aí abaixo, que de certo modo veio parar em minha mão por conta dessa síntese aí emcima. A propósito hoje é meu aniversário.

Dislexia


Temos que entender que é só uma questão de dislexia.
Queriam sentenciar abduzido quando gritaram, na pressa em declarar a setença que daria uma noite de sono feliz e um sorriso de canto de boca esperançoso na cara de inocentes brasileiros que acreditam no futuro desse país, que o Sarney deve ser absolvido!
Azar o nosso. Sorte dos marcianos.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

América



“Encontramos estes reinos em tal boa ordem, e diziam que os incas os governavam em tal sabedoria que entre eles não tinha um ladrão, nem um viciado, nem um adúltero, e também que não se admitia entre eles a uma mulher má, nem existiam pessoas imorais. Os homens têm ocupações úteis e honestas. As terras, bosques, minas, pastos, casas e todas as classes de produtos eram regularizadas e distribuídas de tal maneira que cada um conhecia sua propriedade sem que outra pessoa a tomasse ou a ocupasse, nem tinha demandas com respeito a isso... o motivo que me obriga a fazer estas declarações é a libertação de minha consciência. Por que destruímos com nosso malvado exemplo as pessoas que tinham tal governo que era desfrutado por seus nativos? Eram tão livres do encarceramento ou dos crimes ou os excessos, homens e mulheres por igual, que o índio que tinha 100.000 pesos de valor em ouro e prata em sua casa, a deixava aberta meramente deixando um pequeno pau contra a porta, como sinal de que seu amo estava fora. Com isso, de acordo com seus costumes, ninguém podia entrar ou levar algo que estivesse ali. Quando viram que pusemos fechaduras e chaves em nossas portas, supuseram que era com medo deles. Assim, quando descobriram que tínhamos ladrões entre nós e homens que procuravam fazer com que suas filhas cometessem pecados, nos desprezaram."


Mancio Serra de Leguisamo, Cuzco 1589.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Howard Gardner: como poucos, para poucos

Acabo de chegar da palestra do Howard Gardner no Teatro Castro Alves em Salvador, parte do ciclo de palestras do Fronteiras do Pensamento Braskem. A parte péssima fica por conta da tristeza com a quantidade de lugares vazios no teatro. Não sei que custos eles justificam cobrir, mas entendo que o preço não é nada acessível. Eu mesmo só consegui meu passaporte com cara-de-pau (da Juliana, uma amiga) e sorte. Presente de um tio que, aí está a sorte, tinha condições de nos dar. Se o cara vem pra falar um tema tão ligado e importante para a educação, porque não preços especiais para professores? Para estudantes? Enfim, cerca de 500 pessoas não tiveram a oportunidade, e as ideias do Gardner deixaram de fluir um cadinho mais além.

O Gardner, a propósito, é aquele sujeito das Inteligências Múltiplas, e foi por elas que ele começou a palestra. O ser humano, sob seu olhar, tem diferentes áreas do cérebro que processam informação de modos particulares, as inteligências. A educação ainda segue, apesar dos vinte e poucos anos de teoria, distante de saber lidar com nossas diferentes facetas e segue, o que entendo ser uma violência, "educando" (ainda assim dentro de diversas limitações) quase exclusivamente para as áreas da linguagem e da lógica matemática. Falava um pouco sobre isso alguns posts atrás.

Bom, precisamos de uma nova educação. Sem entrar em detalhes, uma educação que tenha competência de usar o que de melhor sabemos sobre o ser humano. E acredito que o Gardner tem bastante razão sobre a natureza múltipla de nosso cerébro, com suas variadas inteligências. Em relação a sua teoria inicial que falava sobre 7 inteligências (linguística, lógico-matemática, musical, espacial, corporal-sinestésico, interpessoal, intrapessoal), ele agora diz pensar em mais 2: inteligência naturalista e inteligência existencial. Me parece que a percepção dessas inteligências surge pela força do momento de crise ambiental e dos valores.

Sigamos. Na sequência ele passa para um discurso sobre o que ele chama de 5 mentes para o futuro. As mentes, entendo, são mais abrangentes que as inteligências específicas e falam sobre um modo de lidar com o mundo. As 5 mentes que ele elenca, tem relação direta com o mundo que estamos/estaremos enfrentando, com os desafios da era biodigital e das crises econômicas, sociais e ambientais. São elas: disciplinada, sintetizadora, criadora, respeitosa e ética. Talvez a ideia de 5 mentes nos faça pensar que o que ele propõe sejam 5 "tipos" de indivíduos. Engano, a ideia é tentar integrar essas mentes. O que vale frisar é que o desafio para integrá-las é um desafio pessoal, onde cada um é responsável pelo próprio desenvolvimento, sendo o modo para alcançar essa mente integrada tarefa a ser vencida principalmente pela inteligência intrapessoal, afinal cada um possui seu próprio caminho.

Emerge da discussão sobre as mentes necessárias para o futuro, o termo Trabalho Qualificado, tema sobre o qual o professor também tem trabalhado. A ideia aqui é uma visão do trabalho que além da excelência técnica, seja realizado de forma ética e com engajamento (os 3 "Es"). Esse pode ser o tripé para a educação. Uma forma de alcançar esse tripé pode ser desenvolvendo as mentes elencadas pelo professor, e um modo de chegar as mentes pode ser trabalhar as diferentes inteligências. Para quem gosta de educação, acabo de lembrar, o professor oferece duas dicas relacionadas a visão das inteligências múltiplas: buscar atender cada aluno individualmente, o que me lembra a perspectiva do cuidado, e pluralizar os meios de se relacionar com os alunos, afinal cada um possui portas diferentes abertas. O professor que souber entrar por diferentes delas, atingirá mais alunos e trará mais de cada um para o mundo compartilhado.

O professor também faz uma crítica aos ministros de educação do mundo, preocupados com obtenção de altos índices internacionais relativos a educação, sem um programa efetivo capaz de educar bem. No fim das contas educação em diversos aspectos é uma tarefa a ser realizada localmente, o que ajuda a dotar o aprendizado de significado. Sobre uma pergunta relacionada a como preparar uma sala para inteligências múltiplas, Gardner respondeu que mais importante era preparar o professor.

Resumidamente, ou como diria ele, num discurso de elevador, foi isso. Ficou a sensação de "Nossa! Aquela nuvem em minha cabeça, era sobre isso".

As fotos são de minha autoria, tirei "de ousado" como se diz por aqui. Por hora sono... uáááá! Boa noite.

domingo, 16 de agosto de 2009

Reencarnação


A chuva cai, bonita.
Tanto existir expresso em água,
a cair no mundo, a molhar aqui dentro.
Observo, não penso, sinto ser nada.

E ser gota no meio dessa chuva,
feita de rio e de atmosfera.
Vir inundada de sonhos do alto do céu
só pra morrer, novamente, na concretude da Terra.

Medo

Entra em alguma conta do desenvolvimento o tempo que perdemos sentindo medo nas ruas intranquilas dos países de terceiro mundo?

domingo, 9 de agosto de 2009

Educação violenta

Acredito em vocação. É aquela coisa para a qual temos um conjunto de habilidades primitivas que nos favorece, e que por termos um corpo esperto, ele se/nos satisfaz dando prazer quando agimos pra desenvolver essas características. Para reconhecer essa(s) vocação(ões) precisamos experimentá-la(s) desde cedo, enquanto crianças. Primeiro precisamos abandonar a cultura da mente sobre o resto de nossa humanidade, para que deixemos de ser mentes desconectadas do corpo (nós refere-se a minoria que têm a chance de receber o ensino minimamente considerado de qualidade atualmente). Nosso corpo não é um meio de transporte para nosso cérebro. O corpo precisa ser mais valorizado enquanto local onde nos manifestamos e desenvolvemos. As artes também devem ser valorizadas, principalmente pelo seu contato com as emoções. Em suma precisamos reequilibrar o peso das disciplinas que ensinamos para que sejamos capazes de atender tanto o chamado vocacional quanto as necessidades da sociedade organizada em torno da produção. Esse é um dos grandes desafios da educação.

Outro ponto é que hoje apesar de todo o avanço técnico que vivemos e do poder de previsibilide que a ciência nos possibilita, temos um amanhã incerto. Não sabemos o que será do mundo daqui a 5 anos. Apesar disso precisamos continuar educando as pessoas pra esse mundo desconhecido. A única saída que vejo é ensinar (e quem ensina de verdade aprende e aprimora) valores numa espécie de educação atemporal, em contraposição a criar pessoas angustiadas com um mundo que não faz sentido. Precisamos começar a ser capazes de sentir e resolver nossas contradições. E o mundo atual chega a ser esquizofrenizante com tantas contradições que apresenta. Devemos educar, como diz Paulo Freire, "para a curiosidade epistemológica". Segundo ele ainda, "[...] o exercício de pensar o tempo, de pensar a técnica, de pensar o conhecimento enquanto se conhece, de pensar o quê das coisas, o para quê, o como, o em favor de quê, de quem, o contra quê, o contra quem são exigências fundamentais de uma educação democrática à altura dos desafios do nosso tempo".

Porém o mundo do capital torna bastante árdua a tarefa de educar. O mercado exige uma educação para a produção e para o consumo acrítico. E o pior, possui fortes mecanismos de perpetuação e controle muito eficientes. Nós embarcamos nessa onda e vivemos quase exclusivamente para o mercado, cada vez com menos tempo livre. O trabalho alienado, a linha de produção, foi levado até mesmo para altos escalões do mundo científico. E em nossa busca por satisfazer os desejos suscitados pelo mercado através da publicidade abandonamos as nossas vocações em troca das profissões e habilidades mais bem remuneradas. Esse é, discrepância salarial, outro ponto forte a ser debatido. A gritante diferença de valor dado pela sociedade às profissões é uma violência que precisa ter fim. Devemos expandir essa ideia para qualquer forma de acumulação. Platão em A República já imaginva uma sociedade onde não seria permitido que ninguém acumulasse mais do que 4 vezes o que possuem cidadãos médios. Razões outras, mas ideias válidas.

Deve existir limite para a compensação pelo mérito, principalmente quando é um mérito tão sem graça quanto o criado pelo mercado. Não consigo alcançar hoje quanto a enorme quantidade de estímulos por escolhas desvinculadas da vocação, torna infeliz uma sociedade. As profissões valorizadas enchem-se de maus profissionais, organicamente infelizes, em busca de status social e econômico, enquanto profissões menos valorizadas enchem-se de profissionais com baixa-estima, vivendo em condições econômicas menos dignas. Além disso todo o ambiente compartilhado onde tecemos nossas relações torna-se obviamente insalubre, degradando as relações humanas em diversas esferas.

Bom, como não é só o salário que irá qualificar o trabalho de um ser humano, precisamos criar uma cultura de valorização do trabalho, reforçando o valor de cada atividade para a sociedade, educando os indivíduos para que percebam esse valor. Todo mundo é "aprovado" para alguma atividade e não deve se sentir menor por executá-la.

É também essencial que sejamos capazes de abrir mão da eficiência produtiva, da produção supérflua, que necessita de desejos supérfluos, que necessita de estilos de vida supérfluos, que necessita de pessoas supérfluas, em troca de tempo e energia para realizar um debate crítico a respeito de nossas responsabilidades, debate sobre as consequências do que fazemos, debates éticos necessários frente às mudanças tecnológicas, e às consequentes mudanças culturais, ambientais e sociais do mundo moderno. Ser responsável custa, mas a irresponsabilidade será ainda mais custosa. Assim, precisamos educar para a reflexão e criar as condições materiais para que exista essa reflexão. Hoje porém, não há mercado para o debate.

Sem muitos detalhes, alguns resultados dessa reforma (que pelo que foi visto deve ser maior que apenas educacional) seriam, só para citar algumas percebidas numa análise rasa, o aumento da felicidade em nossas relações, crescimento da maturidade emocional, menos custos com saúde advindos da educação física, alimentar e emocional, diminuição das desigualdades e redução da violência.

O mercado criou um sistema educacional que organiza a pilhagem de nossas mentes em busca de matéria-prima específica, abandonando todo o resto. Concluo assim, que embotar a vocação é socialmente maléfico, por atentar contra nossa felicidade de forma violenta, limitando nosso potencial enquanto humanidade e portanto deve ter fim.

Algumas fontes de onde peguei ideias emprestadas:
>Ken Robinson no TED Talks:
As escolas matam a criatividade. PARTE 1 - PARTE 2
>Patch Adams no roda viva. PARTE 1
>Livro "Software Livre, Cultura Hacker e Ecossistemas de Colaboração". Baixe gratuitamente em:
http://softwarelivre.org/livro

>A República de Platão
>Artigo "Desmercantilizar a tecnociência" retirado do livro "Conhecimento prudente para uma vida decente." Gratuito em:
http://www.ufg.br/seminario-andifes/textos/ufscar/docs/desmercantilizar.pdf

Para ser feliz em tempos de mercado

Um valioso pensamento surgido em uma conversa diurna num hotel da Áustria.
A receita é simples:
Para e se pergunte se faria de graça, aquilo que você faz da vida para ganhar dinheiro. Se a resposta for negativa, seja gentil com você e separe um tempo para refletir.

Na forma original a constatação foi a seguinte:
Devemos ganhar dinheiro com aquilo que fariamos de graça.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Persepolis


Persepolis é um achado e fico feliz em ter assistido o filme e lido os quadrinhos. A auto-biografia da espontânea iraniana Marjane Satrapi é contada com um tempero delicioso de drama e humor que nos faz viajar pelas imagens do filme ou pelos quadros da revista sem notar o tempo passar. Quem quiser um retrato mais completo e fiel, recomendo os quadrinhos, que incluem mais passagens da vida de Marjane, além de trechos que acredito que foram retirados do filme pelo peso desnecessário que ganharia na telona. A cadência, o entendimento dos conflitos e a sensação de conhecer a personagem são também experiências mais completas nos quadrinhos. Apesar disso, tenho começado a me apaixonar pelo movimento, e para mim, algumas cenas só no cinema puderam ganhar toda a beleza que lhes cabia. Tudo em preto e branco, bonito de ver, e em francês que eu adoro escutar. Se quiserem uma dica, faria diferente do que eu fiz, leria primeiro os quadrinhos e só depois assistiria ao filme, que surge aí como uma espécie de resumo vivo.

Termino a história com a sensação de conhecer mais o Irã. Um Irã diferente daquele que vemos todos os dias nos jornais, impessoal, pois agora tenho a Marjane que senti crescer através das páginas guardada comigo como uma lembrança daquele país. Persepolis é História de uma visão pessoal, não a contada nos livros, mas a contada com primazia por alguém que a viveu e segue vivendo. Foi pra mim a chance de dar liga entre acontecimentos que existiam meio soltos em minha cabeça: a origem persa do Irã, a Guerra Irã-Iraque, a queda do Mossadeg arquitetada pelos EUA, a ascensão do fundamentalismo islâmico... Me fez confirmar a noção de que as pessoas precisam viver alguma coisa para que esta lhe marque de verdade, não havendo teoria que baste e que as coisas se afastam facilmente quando estamos distantes dessa realidade. Persepolis é único por isso, é a chance de sentir vivamente o Irã e aproximar essa realidade.
Ah! E eu posso emprestar pros mais "chegados".

terça-feira, 28 de julho de 2009

Instruções de uso: lápis

“Eu escrevo com a ponta da frente, mas escrevo mais com a parte de trás, onde está a borracha”.
Juan Rulfo

quinta-feira, 23 de julho de 2009

As vítimas e o resto

No Iraque a contagem dos mortos do lado iraquiano chega a 1.339.771! Apesar de muitos nessa contagem serem civis, as notícias falam mais dos pouco mais de 4.000 militares americanos mortos. Ou dos 2 militares britânicos mortos recentemente.

E nós seguimos na distância, sem cheiro de sangue pra ajudar a pensar, olhando a mídia cotar no mercado de carne algumas vidas cerca de 250 vezes mais caras a humanidade do que aquelas outras, as vidas dos restos.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A gripe dos porcos

A irresponsabilidade fez que a globalização espalhasse pelo mundo um algo mais, diferente do capital. E a mídia nos faz contar uma por uma as vítimas do vírus, os países afetados, varrendo para os porões de nossas cabeças o pensamento óbvio: a origem da doença. Ela vem das criações de porcos realizadas dentro de um modelo irresponsável, insustentável, desumano e que agora revelou-se também perigoso. Mais uma faceta da busca do lucro que sobrepuja as pessoas.
Rebatizei a doença e gostei: A gripe dos porcos.

Link interessante em espanhol:
http://www.pagina12.com.ar/diario/contratapa/13-128052.html

domingo, 21 de junho de 2009

Inspiração

A saudade ganhou moradia, jeito, cheiro, lábio, sorriso, 3 pintas, maciez, textura, colo, abraço, outra pinta, mais outra, mãos, gargalhada, sono, poesia e surrealidade.
Cada detalhe é um litro de ar no peito, num misterioso processo de inspirar sem boca ou nariz.

A saudade ganhou um ombro sardento.
E vem faltando espaço no peito para um detalhe que é tanto ar.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A guerra da água já começou

http://www.atarde.com.br/videos/index.jsf?id=1167407

Nos cabe transformar a falta num grande vetor de paz.

domingo, 14 de junho de 2009

Beija-me

Um título consoante com os meus desejos.
Um hífen incômodo concordando com a realidade.
E vogais dispensáveis.

Querência

Existem dois
Eles querem Mil
Para que sejam três, como os versos.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Da identidade

Ambígua como é de sua natureza.
Verdade inevitável e, só pra ser ironicamente engraçada, intangível.
Porque nossa identidade voa por aí na imaginação de quem imagina.
Anárquica, mentirosa e filha.

Se de outro modo quisesse faria contas, mas não poemas ou canções.
Rasgaria o português, esmigalhando as palavras para além das sílabas, das letras.
E faria apenas contas.
Mas lembro de escrever pra não esquecer de mim.

Pra fazer um poema reto é preciso não ter cara nem nome.
Mas quem precisa de um poemo reto?