Acabo de chegar da palestra do Howard Gardner no Teatro Castro Alves em Salvador, parte do ciclo de palestras do Fronteiras do Pensamento Braskem. A parte péssima fica por conta da tristeza com a quantidade de lugares vazios no teatro. Não sei que custos eles justificam cobrir, mas entendo que o preço não é nada acessível. Eu mesmo só consegui meu passaporte com cara-de-pau (da Juliana, uma amiga) e sorte. Presente de um tio que, aí está a sorte, tinha condições de nos dar. Se o cara vem pra falar um tema tão ligado e importante para a educação, porque não preços especiais para professores? Para estudantes? Enfim, cerca de 500 pessoas não tiveram a oportunidade, e as ideias do Gardner deixaram de fluir um cadinho mais além.
O Gardner, a propósito, é aquele sujeito das Inteligências Múltiplas, e foi por elas que ele começou a palestra. O ser humano, sob seu olhar, tem diferentes áreas do cérebro que processam informação de modos particulares, as inteligências. A educação ainda segue, apesar dos vinte e poucos anos de teoria, distante de saber lidar com nossas diferentes facetas e segue, o que entendo ser uma violência, "educando" (ainda assim dentro de diversas limitações) quase exclusivamente para as áreas da linguagem e da lógica matemática. Falava um pouco sobre isso alguns posts atrás.
Bom, precisamos de uma nova educação. Sem entrar em detalhes, uma educação que tenha competência de usar o que de melhor sabemos sobre o ser humano. E acredito que o Gardner tem bastante razão sobre a natureza múltipla de nosso cerébro, com suas variadas inteligências. Em relação a sua teoria inicial que falava sobre 7 inteligências (linguística, lógico-matemática, musical, espacial, corporal-sinestésico, interpessoal, intrapessoal), ele agora diz pensar em mais 2: inteligência naturalista e inteligência existencial. Me parece que a percepção dessas inteligências surge pela força do momento de crise ambiental e dos valores.
Sigamos. Na sequência ele passa para um discurso sobre o que ele chama de 5 mentes para o futuro. As mentes, entendo, são mais abrangentes que as inteligências específicas e falam sobre um modo de lidar com o mundo. As 5 mentes que ele elenca, tem relação direta com o mundo que estamos/estaremos enfrentando, com os desafios da era biodigital e das crises econômicas, sociais e ambientais. São elas: disciplinada, sintetizadora, criadora, respeitosa e ética. Talvez a ideia de 5 mentes nos faça pensar que o que ele propõe sejam 5 "tipos" de indivíduos. Engano, a ideia é tentar integrar essas mentes. O que vale frisar é que o desafio para integrá-las é um desafio pessoal, onde cada um é responsável pelo próprio desenvolvimento, sendo o modo para alcançar essa mente integrada tarefa a ser vencida principalmente pela inteligência intrapessoal, afinal cada um possui seu próprio caminho.
Emerge da discussão sobre as mentes necessárias para o futuro, o termo Trabalho Qualificado, tema sobre o qual o professor também tem trabalhado. A ideia aqui é uma visão do trabalho que além da excelência técnica, seja realizado de forma ética e com engajamento (os 3 "Es"). Esse pode ser o tripé para a educação. Uma forma de alcançar esse tripé pode ser desenvolvendo as mentes elencadas pelo professor, e um modo de chegar as mentes pode ser trabalhar as diferentes inteligências. Para quem gosta de educação, acabo de lembrar, o professor oferece duas dicas relacionadas a visão das inteligências múltiplas: buscar atender cada aluno individualmente, o que me lembra a perspectiva do cuidado, e pluralizar os meios de se relacionar com os alunos, afinal cada um possui portas diferentes abertas. O professor que souber entrar por diferentes delas, atingirá mais alunos e trará mais de cada um para o mundo compartilhado.
O professor também faz uma crítica aos ministros de educação do mundo, preocupados com obtenção de altos índices internacionais relativos a educação, sem um programa efetivo capaz de educar bem. No fim das contas educação em diversos aspectos é uma tarefa a ser realizada localmente, o que ajuda a dotar o aprendizado de significado. Sobre uma pergunta relacionada a como preparar uma sala para inteligências múltiplas, Gardner respondeu que mais importante era preparar o professor.
Resumidamente, ou como diria ele, num discurso de elevador, foi isso. Ficou a sensação de "Nossa! Aquela nuvem em minha cabeça, era sobre isso".
As fotos são de minha autoria, tirei "de ousado" como se diz por aqui. Por hora sono... uáááá! Boa noite.
2 comentários:
Bruno
Muito legal.
O meu comentário não é sobre o tema nem sobre suas observações. É sobre sua atitude. Você, um jovem como muitos outros, mas com uma visão crítica de sua exisência e da responsabilidade de criar seu próprio caminho.
Siga em frente e molde seu próprio caminho (futuro). A humanidade está carente de muitos Brunos...
Agora uma recomendação, fiquei sabendo do seu blog por intermédio de seu tio José, um ser sensível, que me passou o endereço de acesso. Nas proxímas vezes repasse tambem para meu e-mail.
Essas coisas boas devem serem divulgadas amplamente, pense nisso.
".... com poucs, para poucos"
Tio Ricardo.
Olá Bruno
Parabéns pela postagem. Sou professora e defendo a Teoria de Gardner. Procuro aplicá-la em minhas aulas e o resultado tem sido excelente. Os alunos se sentem mais motivados, pois com essa teoria todos são valorizados. Quero declarar que leciono uma disciplina que amo: Matemática. No meu blog compartilho um pouco do que faço.
Um abraço
Bethematica
bethematica.blogspot.com
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