
Persepolis é um achado e fico feliz em ter assistido o filme e lido os quadrinhos. A auto-biografia da espontânea iraniana Marjane Satrapi é contada com um tempero delicioso de drama e humor que nos faz viajar pelas imagens do filme ou pelos quadros da revista sem notar o tempo passar. Quem quiser um retrato mais completo e fiel, recomendo os quadrinhos, que incluem mais passagens da vida de Marjane, além de trechos que acredito que foram retirados do filme pelo peso desnecessário que ganharia na telona. A cadência, o entendimento dos conflitos e a sensação de conhecer a personagem são também experiências mais completas nos quadrinhos. Apesar disso, tenho começado a me apaixonar pelo movimento, e para mim, algumas cenas só no cinema puderam ganhar toda a beleza que lhes cabia. Tudo em preto e branco, bonito de ver, e em francês que eu adoro escutar. Se quiserem uma dica, faria diferente do que eu fiz, leria primeiro os quadrinhos e só depois assistiria ao filme, que surge aí como uma espécie de resumo vivo.
Termino a história com a sensação de conhecer mais o Irã. Um Irã diferente daquele que vemos todos os dias nos jornais, impessoal, pois agora tenho a Marjane que senti crescer através das páginas guardada comigo como uma lembrança daquele país. Persepolis é História de uma visão pessoal, não a contada nos livros, mas a contada com primazia por alguém que a viveu e segue vivendo. Foi pra mim a chance de dar liga entre acontecimentos que existiam meio soltos em minha cabeça: a origem persa do Irã, a Guerra Irã-Iraque, a queda do Mossadeg arquitetada pelos EUA, a ascensão do fundamentalismo islâmico... Me fez confirmar a noção de que as pessoas precisam viver alguma coisa para que esta lhe marque de verdade, não havendo teoria que baste e que as coisas se afastam facilmente quando estamos distantes dessa realidade. Persepolis é único por isso, é a chance de sentir vivamente o Irã e aproximar essa realidade.
Ah! E eu posso emprestar pros mais "chegados".
Um comentário:
fiquei órfã.
frango com ameixas e os monstros não gostam da lua.
vou buscá-los em breve, para diminuir a sensação de saudade do modo de narrar, de desenhar, de ver o mundo.
mas continuarei órfã da pequena Marjane.
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